17 janeiro 2012

Metades do mesmo reflexo...


























E se se pegasse em palavras e se desconstruísse o mundo? Sobrariam palavras e o mundo continuaria intacto nos seus trejeitos espinhosos. E correr-se-ia o risco de ainda assim alguém se calar, mesmo neste clima de liberdade de expressão extensiva.
E, estou em crer que se se verbalizassem todos os pensamentos, encontrar-se-ia finalmente um infindável manto de verdades assumidas ‘obscuramente’.
Os avanços catapultaram a veleidade da ampliação do real. A frieza ‘a quanto obrigas’ nas mais expostas condições. Se bem que inversamente a realidade também é apetecível e coexistirá… Quanto mais nos julgamos protegidos pelas ferramentas que nos acercam, mais fragilizados penetramos na insatisfação de digerir as verdades nas quais nos apoiamos. E até quando serão as nossas verdades? Até quando recriaremos cenários que consideramos tão nossos, quanto a desordem do caos que não queremos assumir?
Os fins são invariavelmente enormes começos. Que o diga quem após grandes pontos finais se sentiu renovado pelo despejo das agonias que tanto dilaceravam a postura mais destemida e encoberta de um ser que se ocultou e se auto-excluiu de viver.
Escuta-se o som do desmantelamento da tela mais perfeita, só porque dizem que a perfeição não existe... O relativismo sempre foi tão apoteótico quanto inexistente nas mentes inconsistentes. E o temor um verdadeiro entusiasta da existência.
Perdeu-se do seu corpo ou encontrou-se com a alma? O corpo nunca se perde, já o mesmo, não se pode dizer da alma… Que se compromete ao transbordar paixões tão autênticas quanto desavindas?!
E os números? Aqueles que viram palavras que quantificam e prontificam a incomensurável relação que se subtrai sempre que se contam as pausas dos silêncios…
Acho que o frio veio para ficar… para consolar o adeus que fica.
Os silêncios aterradores são veículo de palavras descaracterizadas ou não identificadas. Passam a ser momentos tenebrosos, insuportáveis, de palpitações ofegantes em que o coração bate desajeitadamente em colapso iminente.
Perdi-me de ti. Partiste mais cedo. Fica o teu silêncio. Fica o meu pranto. Fica o Adeus, talvez distante. Até já… Até sempre…
A memória será sempre tão intensamente tua e a saudade, proporcionalmente solitária.

«Enquanto não atravessarmos a dor da nossa própria solidão, continuaremos a buscar-nos noutras metades. Para viver a dois, antes, é necessário ser um.»
Fernando Pessoa